segunda-feira, 2 de abril de 2012

Os Segmentos Imaturos

As vezes não entendo o motivo pelo qual tanta gente simplesmente aceita as coisas como elas são, mesmo quando não são boas.
Beth Furtado, uma grande professora, uma vez me disse: “São os rebeldes que mudam o mundo.” Grande verdade.
Não podemos confundir rebeldia com babaquice ou chilique.
Mas de fato, toda inovação sempre nasce de algum desconforto.

Voltando ao mercado, acho instigante analisar alguns segmentos e a mesmice como tudo acaba sendo conduzido, de produto a comunicação.
Eu chamo de segmentos imaturos (para ser educado, na verdade).
Nestes segmentos, benchmarks são ignorados, aprendizados são passageiros e nada acontece.
Por exemplo, as imobiliárias.
Um segmento que por natureza deveria ser vibrante e o que vemos é um serviço padronizado, que até inova em algumas ferramentas, mas esquece de construir uma relação com seus consumidores.
As pessoas nitidamente são números. Se uma venda está enrolada, o corretor quer desligar o telefone para pegar o próximo desesperado.
Um imóvel é quente. Tirando uma minoria de investidores, comprar um imóvel é dar algum passo, como sair da casa dos pais, casar, subir na vida e etc. Uma marca que comercializa imóveis tem uma causa pronta e não consegue fazer isso ganhar vida.
São marcas conhecidas, mas não reconhecidas.
Indo para a prática, será que essas empresas não teriam que motivar os clientes a correr atrás das conquistas.

Se os corretores entendessem de psicologia de consumo, tratando o cliente como único, a experiência seria inesquecível.
A empresa faria o papel de um amigo na hora mais importante.
E as lojas de colchão? Outro território que está caindo de maduro para qualquer mudança de rumo das obviedades.
A cama é um lugar de sonhos, reais e imaginários. De brincar com filhos, de curtir a vida, de brindar seu sucesso no merecido descanso.
E na loja? A cama é um saco plástico, naquela loja feia, nada aconchegante, fria, onde vender é uma obrigação do vendedor comissionado.
Não pise no colchão, não apague a luz, não deite.
É triste ver as agências de turismo.
Talvez tenha uma mais lembrada, pelo volume de investimento e presença na mídia. Mas ela não é amada. Nenhuma é.
Qual sua lovemark de agencia de viagens? Não existe.
Existe a que você “sempre viaja”. Rotina.
E você ama viajar, ama sair de férias, ama fugir da rotina.
Onde a relação calorosa se perde?
Uma vez um dentista começou a mandar cartões de aniversário para seus clientes e fiquei pensando. O que define um dentista bom ou ruim? Tecnicamente, a resposta é obvia, mas para pacientes leigos, no final das contas é a embalagem: o sorriso, o tratamento, o lugar e etc.
Você não faz ideia o que o cara fez na sua boca.
Um cartão de aniversário pode sim fazer a diferença.
Inovar não é o grande ou o pequeno, é o propósito seguido todos os dias, em passos que vão para a frente.
Acho engraçado que para fazer novos trabalhos, muitas vezes saímos caçando best practices.
Será que a resposta não viria exatamente se a gente não olhasse os exemplos? Vale o teste.
Alias, inovar também é testar, ta aí o fast fail do Google para nos ensinar.
Inovação deveria estar nos KPI’s do marketing, mesmo para dar errado.
Todos os segmentos que inovam e constroem relações um dia foram imaturos.
Lembram dos bancos 15 anos atrás?
E o futebol? Clubes nunca fizeram nada e hoje vemos campanhas e ativações agressivas, com ideias brilhantes em cada canto do Brasil.
Ah, mas as imobiliárias faturam , os colchões vendem muito e os aviões estão cheios. Então pra que mudar? É o pensamento comum.
Lógico que estão funcionando, são segmentos imaturos onde ninguém fez ainda. Ainda!
Se fosse assim, nada nunca mudaria e a estatística mostra o contrário.
Tudo muda.
Quando uma marca rompe o ciclo vicioso, as coisas dão certo e todo o segmento vem atrás. Mas o primeiro a fazer sempre leva vantagens.
E deve ser bom o sono daqueles que ajudaram uma marca a ser a primeira a inovar e mudar o seu segmento.



Andre Foresti
Diretor de Planejamento da F/Nazca S&S
@andreforesti

No Link:

http://unplanned.com.br/destaque/os-segmentos-imaturos/

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